Memória

Carmine Barile - O Barbeta

Esta é a história de Carmine Barile, um dos milhares de imigrantes que deixaram a Itália no final do século 19  em busca de uma vida melhor no novo mundo.

Este texto foi baseado nas anotações de Antonio Barile, meu avô e filho de Carmine e em documentos e depoimentos de familiares e amigos.

“Antonio anotou em seu diário tudo o que os seus pais contavam, e depois, continuou escrevendo a saga dos Barile e a sua influencia na origem da cidade de São Caetano do Sul no estado de São Paulo”.

A Origem dos Barile em São Caetano

Carmine nasceu em Bojano, província de Campobasso (centro sul da Itália) em 03 de abril de 1851 e foi um menino recatado e trabalhador. Aos 20 anos, casou-se com Ana Maria, ainda muito jovem como era costume na época. Em 13 de dezembro de 1875 nasceu Antonio Barile, mas nem tudo foi felicidade e 4 anos depois, Ana Maria com problemas de saúde vem a falecer, deixando Carmine desconsolado.

Com a perda, Carmine resolve se aventurar numa viagem ao Brasil para tentar uma nova vida e vem, deixando Antonio aos cuidados de  sua tia e madrinha. Chega ao porto de Santos em meados de 1881 e é encaminhado a um núcleo colonial em São Caetano, onde já estavam estabelecidas várias familias italianas, e logo começa a trabalhar como lavrador.

As famílias se reuniam na comunidade, partilhavam suas alegrias e tristezas da terra que deixaram e formavam um relacionamento de amizade e colaboração mútua. Numa destas reuniões Carmine conhece a viúva Maria Tereza Perucchi, que já tinha um casal de filhos (Maria e Matheus), e começa um relacionamento que culmina no casamento celebrado em setembro de 1884.

Com o casamento, a vida do casal melhora, mas Antonio ainda estava na Itália com as tias, que escreviam dizendo que o menino tinha muita saudade do pai, então ele providencia para que mandem o menino. Com apenas 9 anos de idade, Antonio chega a São Caetano no final de 1884 e passa a viver com a sua nova família.

Carmine “Barbeta”, lutador incansável, estava sempre propondo melhorias juntamente com os demais moradores da colônia, e a luta dos outros era a sua luta. Carmine se sobressai e em 7 de ou­tubro de 1888 é nomeado Inspetor de Quarteirão do Núcleo Colonial, era um trabalho voluntário a mais, sem remuneração. Carmine em 1890 já tinha um armazém de secos e molhados, onde Antonio trabalhava e gostava do que fazia.

Em 24 de fevereiro de 1891, Carmine recebe um título de propriedade de colono, que  há tempos reivindicava, das mãos do então Governador do Estado de São Paulo Jorge Tibiriçá e passa a ter na sua gleba para o sustento necessário para sua família. Na vida fa­miliar via com bons olhos o namoro do filho Anto­nio com Maria (Marietta), até que em meados de 1895, Antonio com 20 anos, pede a mão de Marietta em casamento e se casa.

A Família de Antonio Barile

Antonio Barile

Antonio e Marietta iniciam sua vida em comum na labuta diária, não se deixando vencer pe­las adversidades e lutando por realizações. As olarias estavam em franco desenvolvimento em São Cae­tano e Antonio e seu pai Carmine não perdem a oportunidade, ficam sócios e de 1910 a 1914 já possuem duas olarias. A produção era de 120.000 tijolos e 8.000 telhas por mês. Seus sócios nas ola­rias eram também Carmine Perrella e João Domin­gos Perrella.

Antonio tinha uma personalidade forte e era enérgico, gostava das coisas nos seus devidos lu­gares, educava seus filhos com muita firmeza e lealdade e sempre dizia que eles eram a alegria da casa.

Mesmo com todos os seus afazeres e responsabilidades, An­tonio não descuidava dos negócios e dos proble­mas da comunidade, tendo sido um dos fundadores da So­ciedade Beneficiente União Operário, Presidente, tesoureiro e secretário da Sociedade Beneficente Príncipe de Nápoles por vários anos e  fundador do São Caetano Esporte Clube ocupando cargos dire­tivos.

Foi também Juiz de Paz e em 1928, foi elei­to vereador na Câmara de São Bernardo, tendo o cargo de 2º secretário; além disso era correspon­dente do Banco Popular Italiano. Este tipo de correspondente funcionava de uma forma toda peculiar. Por exemplo: uma pessoa precisava de um empréstimo bancário, falava com Antonio que lavrava uma carta de crédito, encaminhava ao banco na Itália, que enviava o dinheiro ao correspondente para repassar ao solicitante.

A família estava crescendo e Antonio, sempre apoiado por Marietta, inicia a construção do sobradão na rua Rodrigues Alves esquina com Heloisa Pamplona em 22 de agosto de 1928 e fi­nalmente em 09 de fevereiro de 1929 a casa fica pronta.

“Eu Antonio Barile desfruto meu primeiro ba­nho de banheira exatamente no dia 16 de fevereiro de 1929”. (do seu diário)

Neste mesmo ano, Antonio lidera com outros o movimento para a  Autonomia de São Caetano do Sul, que pertencia a São Bernardo.

Voltando um pouco no tempo, em 1912, Antonio recebe o título de 1º Suplente de Polícia de São Caetano. Faz um abaixo assinado pedindo à Câmara Mu­nicipal de São Bernardo um terreno para o cemité­rio. Conseguem!  e este terreno transforma-se de­pois no Cemitério São Caetano, no bairro Santa Paula.

Mas Antonio não pára, e com os filhos mais velhos João e Orlando, montam a Metalúrgica Barile, fabricando peças e ornamentos de metal estampado e repuxado.

Metalurgica Barile

Brasilina (filha de João Barile) nos conta que tudo era muito trabalhoso e divertido, Antonio seu avô era enérgi­co, e quando não o cumprimentavam ele batia com o chapéu no bumbum das crianças para tirar a poeira, exigindo o cumprimento. A família era toda unida nos ideais do papai Antonio.

Antonio Barile e família

Recorda ainda de um tronco de madeira na por­ta das três casetas, onde se sentavam as crianças para brincar, os passeios de barco com o Buso, tudo é recordação daqueles tempos.

Marietta e Antonio tiveram sete filhos: Carmine Barile Neto; João Barile casado com Joana Angela Cavassani Barile; Orlando Candido Barile casado com Serena Garbelotto Barile; Ana Maria Tereza Barile; Eduardo Barile casado com Guilhermina Ruffo Barile (meus pais); Antonio Armando Barile casado com Yolanda Maria Marelatto Barile e Yolanda A. Barile casada com José Tardini adotando este so­brenome”.

Antonio morre em 1938 deixando saudades aos filhos, netos, bisnetos…

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